Porque não voto na Dilma

Este texto é uma resposta de e-mail que enviei para a minha amiga Virgínia, depois que ela me enviou o texto publicado no post anterior, Direito de Gritar.

Vi, querida!

Também ouvi muitas críticas, quando no primeiro turno falei que votaria na Marina. Foi uma escolha minha, depois de ponderar o que pesquisei sobre os três principais candidatos. Gostei do que vi sobre a Marina no site, gostei da campanha, do fato de sair a candidatura sozinha do PV, sem fazer aliança com partidos sanguessugas, gostei do vice e se em 2002 votei no Lula por acreditar que naquela época ele eram quem melhor representava os brasileiros, hoje acho que essa pessoa é a Marina. De origem pobre, religiosa, originária da região Norte (tão esquecida e abandonada por todos), defensora do meio ambiente, estudiosa e respeitada mundialmente. Essa era a presidente que eu queria para o Brasil. Algumas pessoas também se empolgaram com meus argumentos e no final, convenci muitos a votar na Marina.

Infelizmente, ela não segue no processo eleitoral. Felizmente, ela nos deu o segundo turno.

Concordo com tudo o que você disse em seu texto, o mundo não é dividido entre ricos malvados e pobres coitados. E se ainda não me decidi se voto no Serra ou anulo meu voto, tenho certeza de uma coisa, na Dilma eu não voto. Primeiro, porque não gosto da ideia do Lula e do PT acharem que mandam no Brasil, que são deuses e estão acima de qualquer coisa. Governantes assim me lembram do Nazismo, do Fascismo, de Ditaduras. Um presidente não deve ser unânime, não deve ser um ídolo e sim uma pessoa consciente de seu trabalho a favor do desenvolvimento sustentável de uma nação. Tenho medo sim de um governo que se acha unânime e tão forte que pode sair peitando mundialmente outras potências, como entrando em um acordo de enriquecimento de urânio com um país com políticas duvidosas.
Também sei que não existe ninguém perfeito, mas acho que devemos tentar acertar o máximo que podemos e se erramos, que as pessoas possam perceber que foi tentando acertar. Votei no Lula em 2002. Em 2006, ele não teve meu voto e agora também a Dilma não terá. O Lula teve coragem de insultar a inteligência de todos nós dizendo que não sabia dos esquemas de corrupção do Zé Dirceu. Uma pessoa que mente para se manter no poder não merece minha confiança, credibilidade ou voto. Depois, apoiar o Sarney como presidente do Senado. Não adianta fazer bem feito aqui e cagar errar ali. Aceitar um nome como Michel Temer para vice-presidente do país foi uma grande cagada burrice. Aliar-se ao PMDB só porque eles são os maiores (corruptos) e foda-se esquecer o fato deles serem um partido que se deve evitar, também foi um erro imperdoável. Apoiar Roseane Sarney para governadora do MA é falta de compaixão por todo um estado! E não venham tentar me convencer que devemos fazer vistas grossas para isso e só olhar o lado bom, que isso é tapar o sol com a peneira, é jogar bosta sujeira pra debaixo do tapete e esperar que uma hora, com certeza, vai começar a feder. O PT, o Lula e a Dilma não erraram tentando acertar, fizeram suas escolhas não pensando no melhor para o país e seu povo e sim para se manterem no poder. O que mais me choca são todas essas pessoas que se dizem surpresas por você votar no Serra e que apoiam cegamente a Dilma e que parecem não perceber isso. – Ei, vocês estão votando em um grupo que toma suas decisões baseadas no que é melhor para que se mantenham no poder e não pensando no que é melhor para o país. Reflitam um pouco.
Os fins não justificam os meios, Maquiável já está mais do que ultrapassado para o mundo atual, quando devemos nos lembrar que o fim e o meio são um ciclo, partes de um mesmo projeto que deve ser coerente do início ao fim.
Achei interessante o seu e-mail, precisa também desabafar.
Beijos querida, imensas saudades!
Lembranças para Cacá, Mummy e Mel.
Pimenta

Direito ao grito

Fé é algo inabalável, inquestionável. Quando governantes se tornam deuses, acima do bem e do mal, a democracia é posta em risco. Vigiar, questionar um governo é dever dos cidadãos. Não fazê-lo é negligência. A estratégia de rotular qualquer crítica como burguesa, elitista e reacionária cria uma redoma de proteção ao redor do PT. O mundo não é dividido entre ricões mauzões e pobrezinhos bonzinhos, entre direitistas reacionários e esquerdistas libertários. É muito fácil pregar a liberdade e assumir uma postura autoritária, não permitindo questionamentos, posições contrárias. Do mesmo modo, é muito fácil propagar um discurso comunista e adotar políticas social-democratas. É muito fácil criticar todas as medidas de um governo e conservar a maioria delas.

Quando eu digo que vou votar no Serra, sou, frequentemente, agredida por militantes raivosos. Os mais virulentos me chamam de burguesa, os mais sutis dizem: “Você é uma pessoa esclarecida, como pode?” Ou: “Eu gosto de você assim mesmo!” Eu tenho o direito de assumir a posição política que julgar melhor. Porque sou esclarecida, porque pensei, ponderei, questionei, analisei. Mas, mesmo se assim não fosse. O direito ao voto, à livre escolha, é inalienável. Não sugiro a ninguém que vote no mesmo candidato que eu, sugiro apenas, àqueles que desrespeitam a minha escolha, que não o façam. Sugiro também, que, ao longo do governo, não ajam como militantes apaixonados, cegos aos problemas. Todo governo tem falhas e todos devemos observá-lo e criticá-lo quando necessário, sobretudo, aqueles que o elegeram. Não existiu e nem vai existir presidente Messias, capaz de redimir o Brasil de meio milênio de erros. As melhorias são processuais. Ao que tudo indica o meu candidato não será eleito, mas se ele for, não me eximirei do meu dever de vigiá-lo porque votei nele. Política não deve ser misturada com emoção. Presidentes não devem ser tratados como ídolos ou deuses, mas como servidores do povo.

A quem possa interessar

Como eu disse, minha escolha não foi movida por simpatias ou antipatias. Antes de fazer a minha escolha, comparei discursos e ações. Fiz várias perguntas: Será que uma estatal falida, cabide de empregos, vale mais do que uma empresa privada que jorra lucros, que emprega milhares? Será que o governo atual teria gerado tantos empregos sem as privatizações? (De fato, o governo gerou mais empregos públicos do que deveria, mas esses são onerosos ao Estado e não, lucrativos.) Seria possível o crescimento da economia sem o plano Real, contra o qual o PT se posicionou? Os números de melhoria na educação são mesmo confiáveis e os meus olhos estão me enganando? Afinal, o que tenho visto nas escolas é bem diferente do que pregam as propagandas. Abrir mais vagas nas universidades resolve a questão da educação ou a educação de base deve ser o alvo principal dos investimentos? O apagão da Dilma é menos atacável que o anterior? Casos e casos de corrupção podem ser ignorados, em nome de um “governo para os pobres”? Consumo sem consciência crítica é o suficiente? Sarney e Collor? Já não é incoerência demais? Bom, essas são apenas algumas das perguntas que me fiz antes de fazer a minha escolha. Espero que todos façam muitas perguntas antes de votarem.

Bom, de todo modo, não vou passar o resto da minha vida justificando uma escolha que é só minha. O fato é que eu tenho o direito de votar em quem quiser e o dever de não permitir que me intimidem, menosprezando o meu voto.

Resposta a uma das minhas perguntas

“Em 1997 a Vale estatal pagou à União US$ 110 milhões em impostos e dividendos. Depois de nove anos de privatização, em 2006, essa quantia saltou 23 vezes para US$ 2,6 bilhões. Nesse mesmo período, o número de empregados cresceu cinco vezes, de 11 mil para 56 mil. As exportações triplicaram, de US$ 3 bilhões para US$ 9 bilhões. A produção expandiu de 100 milhões de toneladas para 250 milhões.” (Arquivos da Vale)

Virgínia Costa

P.S. Vírginia é jornalista e mestre em literatura e uma grande amiga, por quem tenho imenso amor e respeito. Recebi este texto por e-mail e achei importante replicar aqui. No próximo post, leia a minha resposta a ela.